Entra ano, sai ano, e as novidades em tratamentos estéticos para combater o envelhecimento não param de surgir. Aparelhos importados de última geração, estímulo de colágeno, renovação celular, peelings hi-tech, enfim, não falta opção. No entanto, em meio a tanta tecnologia, a aplicação de toxina botulínica A – popularmente chamada de Botox, o que na verdade é a marca da primeira toxina que chegou ao Brasil e acabou batizando o procedimento entre os leigos – feita por meio de uma simples injeção, ainda é a campeã dos procedimentos em consultórios dermatológicos e de cirurgia plástica, quando o objetivo é combater rugas. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Departamento de Cosmiatria da Sociedade Brasileira de Dermatologia em 2011, 43% dos procedimentos estéticos feitos para amenizar rugas foram aplicação de toxina botulínica, os 57% restantes correspondem a outros cinco métodos com a mesma finalidade. Isso prova que o Botox liderou sozinho quase metade dos tratamentos.
“Mesmo com tantas opções de alta tecnologia, a toxina botulínica ainda é a mais indicada para tratar rugas, pois é um método que possui um efeito que nenhum outro possui, ele atua no músculo. Essa ação é muito eficiente. De cada dez tratamentos que faço, para tratar rugas, sete ou oito são aplicação da toxina”, confirma a dermatologista carioca Daniela Nunes, membro das Sociedades Brasileiras de Dermatologia e Laser em Medicina. “E acontece uma coisa curiosa: alguns pacientes chegam ao consultório com medo, mas depois de entender como é aplicado, quais são os benefícios e o tempo de duração, resolvem experimentar e a maioria volta para novas aplicações”, conta Daniela. “Esse procedimento vicia, fico acompanhando meu rosto todos os dias para ver se já é hora de aplicar a toxina novamente. A diferença é enorme, com Botox tenho a sensação de que meu rosto fica firme, esticadinho. Inclusive eu tinha medo, mas as picadas são suportáveis”, conta a designer gráfica Rose Bocchino, 37 anos, de Belo Horizonte.
Para ajudar você a identificar se vale a pena ou não investir na técnica, veja abaixo os 10 aspectos mais importantes dela:
1) Eficácia e mecanismos de ação
A ação da toxina botulínica é eficaz para amenizar rugas dinâmicas, aquelas provocadas por vícios de expressão, que aparecem quando os músculos da face estão em movimento, e também as rugas estáticas, que aparecem mesmo quando o rosto está parado. Porém, diferentemente do que muita gente pensa, o Botox não atua na flacidez da pele. “A toxina botulínica é injetada no músculo e sua ação é paralisar o movimento muscular. Ao evitar essa movimentação, ela impede a contração muscular, que é o que forma a ruga”, resume a dermatologista Daniela Nunes, do Rio de Janeiro.
2) Botox e outros procedimentos
“Não há nenhum tratamento que se compare ao efeito da toxina botulínica, no que diz respeito a disfarçar rugas. Os outros métodos são importantes, estimulam colágeno e a renovação celular, mas eles complementam a ação da toxina e vice-versa. Porém nenhum outro atua no músculo”, ressalta Daniela Nunes. Outra vantagem do Botox sobre os demais procedimentos anti-sinais é a ação preventiva. “Por paralisar rugas dinâmicas, tem alto poder de prevenir o aparecimento de novas marcas da idade e a piora das já instaladas, pois retarda o tempo que esses sinais de expressão levariam para se tornar uma ruga estática, que é bem mais difícil de tratar”, acrescenta a dermatologista Mônica Aribi, de São Paulo, que fez sua dissertação de mestrado sobre a toxina botulínica.
3) Contra-indicação
Não pode fazer uso da toxina botulínica as gestantes, mães que amamentam, pessoas com doenças autoimunes (em que anticorpos atacam células sadias do corpo), doenças neurológicas e que afetam os músculos; alérgicos à proteína do ovo e que estejam fazendo uso de medicamentos com aminoglicosídeo.
4) Riscos e desvantagens
“Entre os maiores riscos da toxina botulínica está o exagero na dosagem e a aplicação em regiões erradas, que pode resultar em assimetria, isto é, um lado ficar diferente do outro, pálpebra caída e em casos mais extremos, pode provocar botulismo, uma doença grave que paralisa os músculos”, resume o cirurgião plástico Fausto Viterbo, professor da Faculdade de Medicina de Botucatu (SP), da Universidade Estadual Paulista (Unesp). “Quando mal aplicado provoca aquele efeito máscara, que não é natural e nenhuma mulher quer. Do ponto de vista da saúde também pode prejudicar movimentos necessários para a sobrevivência como piscar, mastigar, deglutir e até respirar”, completa Mônica Aribi.
5) Regiões que podem ser tratadas
Pessoas que ao falar produzem verdadeiras mímicas, com o tempo, ficam com a pele cheia de rugas por conta desses hábitos de expressão. Sendo assim, as regiões do rosto mais beneficiadas pela técnica são as rugas da testa, glabela (entre as sobrancelhas), pés de galinha e qualquer ruga que se forme na região dos olhos. “As ruguinhas verticais que aparecem no limite dos lábios superiores, principalmente dos fumantes, também podem ser tratadas com a toxina, mas geralmente exigem um procedimento complementar. É preciso ver caso a caso”, explica Mônica Aribi.
6) Envelhecimento avançado
A questão de tratar rugas antigas e muito profundas divide a opinião dos especialistas. O cirurgião plástico Fausto Viterbo, da Unesp, e a dermatologista Mônica Aribi acreditam que o Botox age melhor nas peles com um grau de envelhecimento suave e médio. “Envelhecimento muito avançado pode até ser tratado com a toxina, mas como complemento de tratamentos cirúrgicos”, explica o médico. “As peles muito envelhecidas geralmente apresentam um grau de flacidez alto também, sendo assim a ação da toxina pode trazer um relaxamento dos músculos de sustentação da pele que pode ser prejudicial”, argumenta Mônica. Já, para a médica Daniela Nunes, o método pode ser eficaz para qualquer nível de ruga. “Nos casos mais suaves e intermediários, atua de maneira preventiva; nos mais avançados atenua as rugas estáticas já instaladas e previne a formação de novas, assim como a melhora do aspecto geral da pele e do semblante como um todo”, opina a dermatologista.
7) Aplicações e resistência ao efeito
Como o Botox tem efeito temporário é comum as pessoas que se sentem satisfeitas com o resultado repetirem a dose. Não tem regra, cada organismo reage de um jeito, mas pode-se dizer que as aplicações geralmente são feitas de quatro e seis meses depois da última sessão. E sempre com indicação médica. A questão sobre criar ou não resistência e a partir daí ter a necessidade de doses maiores e intervalos mais curtos também tem controvérsias. “Com o tempo pode acontecer do paciente ficar resistente ao produto, sendo necessário o uso de doses maiores em aplicações futuras. E esse exagero das doses leva à possibilidade do paciente ficar insensível ao efeito”, defende o cirurgião plástico Fausto Viterbo. “Alguns estudos mostram que com o tempo de uso a necessidade da toxina é reduzida, o que implica em doses menores. Por ficar paralisado o músculo se acostuma a pouca atividade e se condiciona a não mais contrair”, justifica Mônica Aribi.
8) Expressão facial: natural x engessada
O grande conflito de quem quer experimentar o Botox é a questão da naturalidade, de manter a expressão espontânea, sem ficar parecendo uma máscara. De fato, isso pode ocorrer. “O risco é grande quando as doses são exageradas e as áreas demarcadas para aplicação não são corretas”, diz Fausto Viterbo, que dá uma dica: “se o resultado do tratamento de uma amiga ficou super natural, e você puder, faça com o mesmo médico. O semblante natural indica que o médico é competente e domina a técnica”, diz ele. Para a dermatologista Mônica Aribi, a matemática é simples: “o objetivo é eliminar a ruga, não a expressão natural do paciente. E doses controladas são imprescindíveis para essa naturalidade”.
9) Como corrigir os exageros
Pode acontecer de a paciente sentir que a dose aplicada foi um pouco além do suficiente ou que a região tratada não ficou exatamente como queria. Resultado: uma sobrancelha mais arqueada que a outra, algum ponto muito paralisado ou com uma expressão exagerada. Para corrigir essas falhas só tem duas maneiras: esperar o efeito passar, já que é temporário, ou lançar mão de outro procedimento para descontrair o músculo. “Pode-se fazer eletro estimulação com micro choques que fazem o músculo voltar a funcionar. Mas mesmo nesse caso é preciso esperar em média 30 dias para relaxar a musculatura de novo”, avisa Mônica Aribi.
10) Quanto custa?
O valor da aplicação geralmente é cobrado pelo número de ampolas utilizadas no procedimento, que muitas vezes envolve o tratamento de mais de uma região do rosto. Por sessão é cobrado, em média, de R$ 1.000 a R$ 1.500 reais, mas, de novo, é preciso ver caso a caso.